sábado, 28 de janeiro de 2012

Carta para a Falta.

Nessa imensidão de nada
Eu choro copiosamente
Sem muita certeza do motivo
Mas certa de que não é por excesso.
É a falta.
Falta sem paciência de esperar pelo próximo dia.
Falta má educada, foi mimada e acostumada a não existir.
Quando aparece, toma conta da sanidade
Manipula as lágrimas e a capacidade de manter-me sóbria.
Perco todo o controle sobre as emoções.
Exijo atenção exagerada
Se não recebo, sou áspera.
Como esperar menos?
Nina Bückler, incomparável beleza prussiana
Me faz querê-la mais que o recomendável diariamente.
Agora eu vivo nesse ciclo de querer, poder e não ter.
Por vezes, sou injusta, pois eu tenho.
Tenho mais que mereço
Talvez, por isso, mais que suporto.

*

Cara Falta,

Façamos um acordo, uma espécie de pacto: eu vivo sem tua presença, mas se quiseres vir, deve prometer vir sozinha e por tempo suficiente para que aquela sua amiga, a Dor, não venha procurar-te e, ao fazê-lo, encontrar em mim um bom abrigo. Em troca deste gentil gesto, ofereço-te uma poesia dizendo o quão fatal és.
Espero ansiosa por uma resposta positiva. Perdoe-me, mas não gosto de sua amiga.
Vejo você em breve.

Encarecidamente,
Mitzi Brandt.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Para quem pode prever.

Só eu sei o que é ser furacão quando te pedem calma.
Só eu sei o que é ser labareda quando se espera indiferença.
Só eu sei o que é ser amável quando te disferem socos.

E nessa vida o que é seguir as normas?
O que fazer quando esperam de você o pior?
E mais difícil: O que fazer quando esperam o melhor?

Só eu sei o que é ser julgada sem fazer sequer um movimento.
Só eu sei o quanto eu dei de amor e recebi em dobro.
E mais que isso, só eu sei o quanto isso é ruim.

Até onde a culpa é minha por não ter amado o suficiente?
Como eu poderia saber que o meu amor verdadeiro ainda estava por vir?
Quem poderia prever um final tão feliz, senão os contadores de histórias de princesas?

Só eu sei do prazer de uma reviravolta.
Só eu sei o que é amar sem qualquer tipo de limite.
Só eu sei o que ter e necessitar de alguém, um certo alguém.

Será que eu sou suficiente?
E se ela achar que não?
O que seria de mim?

Só eu sei o que é ter luz.
Só eu sei o quanto eu amo.
Só eu sei o que é "para sempre".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Duas faces, uma moeda.

O sentimento é puro amor.
Sou consumida pela violência da paixão.
Só quero te abraçar pra sempre.
Se fosse um pouco mais forte, rasgava suas roupas permanentemente.
Carinho de almas quase fraternas.
Ouvi dizer que almas podem ser incestuosas demais.
Passaria horas só a observar seus olhos.
Passo dois minutos perto e é o limite pra não beijar todo o corpo.
Colocaria minha mão no fogo pela tua palavra.
Não precisa sequer de palavras pra acender o fogo.
Entendo seu silêncio e respeito-o com obediência.
Adoro os seus gemidos, seus gritos de quem o calar já não sustenta.
Sorrio para as pessoas que me apresentas como seu passado.
Mantenha-as longe, sou capaz de apoteóticos assassinatos.
Perfeita dama e educada para a sua família.
Incompreendida e desrespeitosa frente a minha.
Gosto do sorriso, desse seu leve jeito de viver.
Sua boca é meu paraíso, e prefiro seu peso a me derreter.
Toque suave, beijos sutis.
Trancafiar de músculos e arrepios sem fim.
Seu gosto de cigarros inconfundível e delicioso.
Seu gosto de mel, misturado ao céu que eu beberia até sobrar só o osso.
Tenho certeza que isso tudo vai durar eternamente.
Fique certa que é para além do sempre esse ardor incandescente.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sortilégio

Num breu criativo, ela me aparece feito um raio.
Veloz, branca, cheia de luz e incapaz de ver a força que tem sobre meu tão frágil corpo mortal.
O insight começa com um jogo quase de azar, com aquela dose conhecida de dor para tornar tudo mais divertido.
Criando situações insuportáveis para dois seres tão descontrolados de ardor.
Parece magia ou algum tipo de bruxaria que nos afeta tão profissionalmente, que a visão turva, ainda só na imaginação causa estragos emocionais.
O corpo, feito um bloco maciço de alumínio jogado à lenha acesa, reage a cada estímulo tão abruptamente, que causa espasmos.
Um dia eu encontro um vidro escrito "Drink me", desse mesmo que a Alice achou naquele país das maravilhas.
Bebo todo o seu conteúdo e fico do tamanho de um morango.
Assim, posso perpassar por toda a superfície daquele raio branco, desfrutando de cada ínfimo detalhe.
Quando estiver completamente embriagada de paixão, volto ao tamanho de origem pra fazer o raio trovejar alto em meus ouvidos.
É naquele momento de completa paralisação e contração do bloco de alumínio que ele derrete e fica líquido como uma água brilhante.
Encontro fatal esse do alumínio com um raio.
Mas ao contrário do que parece, os dois corpos renascem a cada tempestade e nunca se aniquilam.
Não é assim que conta a lenda?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Musa bruxa da escuridão

Essa lógica confusa.
Tão comum, tão banal, mas às vezes parece patológico.
Fascínio pela impossibilidade de sucesso.
Desejo exacerbado pela dificuldade de ser feliz.
O simples é confundido com ruim.
Ela ama o improvável.
Se há possibilidade de fazer qualquer tipo de mal, BINGO, é o ideal.
De onde sai esse prazer insano?
Se existe uma teleologia nessa história, elucida-me.
Pra que fim seguirá essa moça?
E por que se importar se é assim que as coisas funcionam pra ela?
Porque era pra ser diferente.
Era pra ter mais sorriso.
Era pra ter mais cor e menos dor.
No meu mundo, é claro.
No meu mundo, só teria amor.
Mas se o que ela precisa é torpor, acredito que estou a seu dispor.