sábado, 23 de junho de 2012

Lágrimas de desespero

Falta
tempo
Falta
espaço
Falta
ar

Sobra
pressa
Sobra
mágoa
Sobra
dor

Falta
você
Sobra
eu

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Declaro a verdade

Me perguntaram se eu tinha planos. Perguntei que tipo de planos.
"Planos para a vida futura."
O máximo que consegui responder foi que não dependia de mim. Nem tanto por conta do acaso, que obviamente tem grande participação na minha vida, particularmente. Mas, por causa do amor.
Por mais que eu quisesse controlar o destino de sua vida, não cabe a mim essa missão. Então, o que me resta é esperar.
"Mas você vive sem planejamentos?"
Sim, perfeitamente. Não tenho muitas decepções.
"Possui qualquer visão do futuro?"
Sim. Vejo-me ao lado de minha amada, numa cama cheia de lençóis e travesseiros, enroscadas aos beijos ao nascer do dia chuvoso no Rio de Janeiro.
"Não achas pobre e simplório?"
Nem por um segundo. Minha riqueza, felicidade e futuro pertencem impreterivelmente àquela que chamo de Amor. Todo meu futuro depende de quantos sorrisos por minuto terei o privilégio de presenciar.
Não. Não pense que faço dessas palavras algum tipo de declaração barata de amor cego e apaixonado. Isso é apenas a minha verdade. Talvez a declaração da minha verdade. Uma verdade apaixonada.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fria tez

Por mais que eu estivesse no teu quarto frio, você sempre conseguiu me manter aquecida nos teus braços. Deve ser por isso que é tão estranho sentir tua mão fria desse jeito. Essa mão que eu chegava a me excitar só de olhar.
Se você pudesse se ver, provavelmente reclamaria da aparência. Sempre reclamou de como era branca, e hoje, nunca vi tanta palidez nesse rosto.
Sei que quando eu menos esperar, você vai falar comigo, ainda que adormecida, e não vai lembrar depois. Eu sei que você só está brincando comigo, deve estar realmente cansada, ou embriagada, talvez.
Não sei se ainda lembra, mas eu não sou a maior jogadora do mundo, então pra mim esse teu joguinho já está chato. Quero logo você sorrindo quando eu passo a mão na sua barriga.
Vou tirar você dessa sala esquisita, com pessoas uniformizadas de cores frias.
As cores que você me mostrou e me ensinou a usar. Não esqueço mais que uma sombra não é feita com a mesma cor só que escura, não, ela deve ser complementar.
Assim como somos eu e você. Por isso vou te tirar daqui. Resgatar todo o brilho dos seus olhos com cor de cobre. Estão equivocados por completo. Não sabem de todo poder da sua alma e do fogo que você emana. Estão mentindo pra gente.
Ainda não completamos nossas paredes com pinturas e fotos feitas por nós mesmas. Nem criamos uma lhama e uns cachorros.
Não pense que assim você vai se livrar daquela viagem a Berlim. Vou te acordar de verdade e te carregar nos ombros.
Sabe que até os teus cachos, que sempre enchem minhas mãos de doçura, nessa luz fraca parecem opacos. Absurdo!
Agora já chega!
Vem!
Vamos voltar para o nosso universo cheio de sons e cores e temperaturas e cheios de sabores completamente diferentes dessas coisas daqui.


.
.         Fall on me
.               Far from my faith
.                    Closer to my dreams
.                           All wasted
.

Tudo bem. Se você não quiser sair, eu fico aqui. Fico ao seu lado para sempre, como eu sempre disse que faria.
Quantos comprimidos desses vidrinhos que te deram, você acha que serão suficientes pra eu ganhar uma caminha dessas?
Ok.
Até daqui a pouco então, meu amor.
Já já estarei deitadinha aqui com você e a gente vai finalmente dormir juntas. E todo nosso amor, enfim, eternizado nesse sono.

Pra sempre sua,
Sarah B

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Hálito frágil do imortal

E tudo é vulnerável
A vida é o maior dos exemplos
E assim é a morte
O fantasma inconstante
onipresente
Mas ele volta
junto com a vida
A morte renasce
desaparece
dentro do mesmo instante
à menor partícula do tempo
O último suspiro
se torna o primeiro sorriso
E com todo estudo
preparação
de uma vida
fica perplexado
relutante
inconsequente
Um som repetido
como apito
indica o sopro.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Do outro lado da porta

Duas vozes confusas ecoando pelo corredor frio.

Eles estão certamente discutindo o tema da próxima reunião. Os barulhos de papel são fruto das anotações e leituras das propostas feitas.

Eles podem estar planejando um golpe para recuperar o posto de diretor-chefe. O cheiro de café mostra a preocupação de se manterem atentos.

Eles provavelmente estão fazendo piadas sobre o chefe que parece ter mudado a dentadura. A água que escorre pelo chão deve ter sido um gesto brusco dele dando uma risada.

Eles devem ser amantes e só tem oportunidades seguras de encontros naquela sala. A respiração alta só pode ser do sexo.

Eles são vizinhos, ele é gay, ela é gay, e os dois estão dormindo neste momento na sala, porque ontem a noite foram ao show da Madonna e ainda não tiveram tempo para descansar. Tentaram se manter acordados com o café e água gelada, mas foi inútil, o máximo que conseguiram foi deixar o corredor com cheiro bom. Dormiram em cima de papéis importantes. Ele descobriu que ela ronca, a respiração é extremamente alta. Quando ouviram o telefone tocar, acordaram rápido demais e deixaram derramar o copo d'água que pegaram.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Perspective-me

Fui àquela médica impaciente. Eu impaciente, ela impaciente. Naquela sala de espera, um coisa me fez perder parcialmente o tédio. Uma garota esquisita, sentava com as pernas dobradas, uma em cima da outra e lia um livro de capa preta que eu não consegui reconhecer. Ela não olhava para ninguém na sala. E eu nem sabia se ela iria se consultar mesmo. Parecia que estava em outro lugar, não tinha muito jeito que saía com frequência de casa, a não ser, talvez, para uma biblioteca ou ao colégio. Devia ter 15 anos e os pais provavelmente eram severos com ela. Ficava imóvel, só mexia os dedos para passar as páginas e os olhos. Assustadora. Aposto que o livro de capa preta era de magia negra ou coisa parecida.

Estava eu lá, na minha, de boa, vendo Bob Esponja a contragosto. Aquela sala lotada de gente falando alto e perguntando coisas sobre a vida alheia. A médica parecia que não queria atender às pessoas, eu já estava há uma hora esperando pra ser atendida e tinha uma menina me incomodando. Ela ficou essa hora inteira, e continuou, com as pernas cruzadas lendo. Não é possível que uma pessoa consiga ficar nessa posição por tanto tempo sem levantar nem o rosto pra olhar as horas. Tinha cara de criança, devia estar lendo Harry Potter ou algo do tipo.

Nunca mais volto naquele lugar. Muito lotado, muito calor e muito barulho. Acho que só tinha uma pessoa em silêncio naquela sala. Ela lia um livro com tanto afinco que reparei nas pessoas do lado analisando-a, assim como eu fazia. Pelo tempo que passou na mesma posição, lendo sem esboçar qualquer emoção, devia ser um livro da faculdade. Ela usava óculos e roupas simples, mas impecáveis. Parecia que estudava numa faculdade boa, mas não saía por aí se gabando por isso. Gostei dela. Se eu não fosse tão tímido, falava com ela. E de qualquer forma, o barulho era tanto que provavelmente ela não me escutaria.

Se eu contar você não acredita. Achei a médica dos meus sonhos. Aquela sala de espera não era lá muita coisa, mas eu vi tanta gente diferente passando pra lá e pra cá, que me distraí. A mais estranha delas era uma mulher pequena. Toda retorcida num pedaço do banco. Parecia um bichinho ameaçado encolhido num canto. Tinha nas mãos um livro e quase não vejo o rosto dela de tão enfiada naquelas páginas que tava. Tinha cara de criança, mas criança não fica assim, lendo sem parar e sozinha numa sala de espera. A menos que ela seja moradora de rua. Deve ter roubado o livro de alguma criança e foi ler naquela sala, achando que estaria segura. Usava um short jeans surrado e uma camiseta dessas em formato de T com chinelos havaianas. Coitada. Se o remédio não tivesse tão caro, eu compraria umas roupinhas pra ela.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Carta para a Falta.

Nessa imensidão de nada
Eu choro copiosamente
Sem muita certeza do motivo
Mas certa de que não é por excesso.
É a falta.
Falta sem paciência de esperar pelo próximo dia.
Falta má educada, foi mimada e acostumada a não existir.
Quando aparece, toma conta da sanidade
Manipula as lágrimas e a capacidade de manter-me sóbria.
Perco todo o controle sobre as emoções.
Exijo atenção exagerada
Se não recebo, sou áspera.
Como esperar menos?
Nina Bückler, incomparável beleza prussiana
Me faz querê-la mais que o recomendável diariamente.
Agora eu vivo nesse ciclo de querer, poder e não ter.
Por vezes, sou injusta, pois eu tenho.
Tenho mais que mereço
Talvez, por isso, mais que suporto.

*

Cara Falta,

Façamos um acordo, uma espécie de pacto: eu vivo sem tua presença, mas se quiseres vir, deve prometer vir sozinha e por tempo suficiente para que aquela sua amiga, a Dor, não venha procurar-te e, ao fazê-lo, encontrar em mim um bom abrigo. Em troca deste gentil gesto, ofereço-te uma poesia dizendo o quão fatal és.
Espero ansiosa por uma resposta positiva. Perdoe-me, mas não gosto de sua amiga.
Vejo você em breve.

Encarecidamente,
Mitzi Brandt.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Para quem pode prever.

Só eu sei o que é ser furacão quando te pedem calma.
Só eu sei o que é ser labareda quando se espera indiferença.
Só eu sei o que é ser amável quando te disferem socos.

E nessa vida o que é seguir as normas?
O que fazer quando esperam de você o pior?
E mais difícil: O que fazer quando esperam o melhor?

Só eu sei o que é ser julgada sem fazer sequer um movimento.
Só eu sei o quanto eu dei de amor e recebi em dobro.
E mais que isso, só eu sei o quanto isso é ruim.

Até onde a culpa é minha por não ter amado o suficiente?
Como eu poderia saber que o meu amor verdadeiro ainda estava por vir?
Quem poderia prever um final tão feliz, senão os contadores de histórias de princesas?

Só eu sei do prazer de uma reviravolta.
Só eu sei o que é amar sem qualquer tipo de limite.
Só eu sei o que ter e necessitar de alguém, um certo alguém.

Será que eu sou suficiente?
E se ela achar que não?
O que seria de mim?

Só eu sei o que é ter luz.
Só eu sei o quanto eu amo.
Só eu sei o que é "para sempre".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Duas faces, uma moeda.

O sentimento é puro amor.
Sou consumida pela violência da paixão.
Só quero te abraçar pra sempre.
Se fosse um pouco mais forte, rasgava suas roupas permanentemente.
Carinho de almas quase fraternas.
Ouvi dizer que almas podem ser incestuosas demais.
Passaria horas só a observar seus olhos.
Passo dois minutos perto e é o limite pra não beijar todo o corpo.
Colocaria minha mão no fogo pela tua palavra.
Não precisa sequer de palavras pra acender o fogo.
Entendo seu silêncio e respeito-o com obediência.
Adoro os seus gemidos, seus gritos de quem o calar já não sustenta.
Sorrio para as pessoas que me apresentas como seu passado.
Mantenha-as longe, sou capaz de apoteóticos assassinatos.
Perfeita dama e educada para a sua família.
Incompreendida e desrespeitosa frente a minha.
Gosto do sorriso, desse seu leve jeito de viver.
Sua boca é meu paraíso, e prefiro seu peso a me derreter.
Toque suave, beijos sutis.
Trancafiar de músculos e arrepios sem fim.
Seu gosto de cigarros inconfundível e delicioso.
Seu gosto de mel, misturado ao céu que eu beberia até sobrar só o osso.
Tenho certeza que isso tudo vai durar eternamente.
Fique certa que é para além do sempre esse ardor incandescente.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Sortilégio

Num breu criativo, ela me aparece feito um raio.
Veloz, branca, cheia de luz e incapaz de ver a força que tem sobre meu tão frágil corpo mortal.
O insight começa com um jogo quase de azar, com aquela dose conhecida de dor para tornar tudo mais divertido.
Criando situações insuportáveis para dois seres tão descontrolados de ardor.
Parece magia ou algum tipo de bruxaria que nos afeta tão profissionalmente, que a visão turva, ainda só na imaginação causa estragos emocionais.
O corpo, feito um bloco maciço de alumínio jogado à lenha acesa, reage a cada estímulo tão abruptamente, que causa espasmos.
Um dia eu encontro um vidro escrito "Drink me", desse mesmo que a Alice achou naquele país das maravilhas.
Bebo todo o seu conteúdo e fico do tamanho de um morango.
Assim, posso perpassar por toda a superfície daquele raio branco, desfrutando de cada ínfimo detalhe.
Quando estiver completamente embriagada de paixão, volto ao tamanho de origem pra fazer o raio trovejar alto em meus ouvidos.
É naquele momento de completa paralisação e contração do bloco de alumínio que ele derrete e fica líquido como uma água brilhante.
Encontro fatal esse do alumínio com um raio.
Mas ao contrário do que parece, os dois corpos renascem a cada tempestade e nunca se aniquilam.
Não é assim que conta a lenda?

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Musa bruxa da escuridão

Essa lógica confusa.
Tão comum, tão banal, mas às vezes parece patológico.
Fascínio pela impossibilidade de sucesso.
Desejo exacerbado pela dificuldade de ser feliz.
O simples é confundido com ruim.
Ela ama o improvável.
Se há possibilidade de fazer qualquer tipo de mal, BINGO, é o ideal.
De onde sai esse prazer insano?
Se existe uma teleologia nessa história, elucida-me.
Pra que fim seguirá essa moça?
E por que se importar se é assim que as coisas funcionam pra ela?
Porque era pra ser diferente.
Era pra ter mais sorriso.
Era pra ter mais cor e menos dor.
No meu mundo, é claro.
No meu mundo, só teria amor.
Mas se o que ela precisa é torpor, acredito que estou a seu dispor.